segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Imagem sem maquiagem

Até pouco tempo era comum ouvir-se que “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Se a expressão, usada a cântaros, já destoava dos princípios da semiótica, o advento da Internet e a evolução das ferramentas tecnológicas cuidaram de dar outras conotações àquele jargão. Se a imagem vem ganhando piques (e pixels) de alta resolução e qualidade, não é menos verdade que os recursos para formatar o texto têm sido cada vez mais generosos, abrangentes e acessíveis.

Toda essa modernidade está à mão para facilitar a vida dos comunicadores, quer no campo do marketing, das várias mídias e dos jornalistas que fazem Assessoria de Imprensa. Então, com tantas facilidades, menos dificuldades nas relações com o usuário final, certo? Só até a página nove. Por que, em se tratando daquela outra “imagem” – a que fica na retina crítica do público - o buraco é mais embaixo.

Empresas, da área privada ou governamental, estão sujeitas a ruídos de comunicação se não forem transparentes na divulgação de suas ações e/ou produtos e na formulação de estratégias corretas para correção de rumos quando isso se fizer necessário.

Instituições que “vendem” entretenimento estão mais expostas a ranhuras em sua imagem por que, de certa forma, os “produtos” que oferecem normalmente são destinados a públicos distintos e, portanto, exigem que sua divulgação seja pontual, dirigida. A Assessoria de Imprensa é abastecida por várias fontes e precisa consolidar essa matéria prima em informação linear.

Não pode haver dúvida de informação no texto final, que será divulgado aos jornais, rádio, tevê e web. Por isso, a primeira ação da Assessoria de Imprensa deve ser profilática: checar a possibilidade de alteração na programação em relação a data, horário, local, participantes, bilheteria, acesso ao público etc. Uma vez disparado o texto, torna-se desgastante, para não dizer “mico”, reenviá-lo com a correspondente “errata”.

Dois exemplos com grau de ressonância diferentes. A Assessoria de Imprensa está pronta para iniciar a divulgação de um aguardado show com artistas famosos. O evento é gratuito e a expectativa de público é de casa cheia. No rodapé do texto, onde vão as informações de serviço, deve ficar clara a forma de acesso das pessoas: haverá distribuição antecipada dos ingressos ou as pessoas entram pela ordem de chegada?
Problema aparentemente banal, mas, imagine centenas de pessoas debaixo de um sol escaldante sem ter absoluta certeza de que vai conseguir entrar. Isso gera ruídos desagradáveis que, potencializados, afetam a imagem da instituição no quesito de organização.

Outro caso, este grave: jornalista tinha na pauta a cobertura de uma exposição de arte contemporânea e foi até a galeria conferir o trabalho do artista. Tarde de verão, calor insuportável no recinto, risco de deteriorar as obras ali expostas. Não tendo encontrado quem lhe desse explicações para aquela falha, no dia seguinte elogiou as obras do artista e fez críticas contundentes ao “descaso” da instituição. O problema: a tubulação do ar condicionado se rompera, a pessoa responsável comunicou ao seu diretor mas este não retransmitiu a informação à Assessoria de Imprensa. Um caso típico em que a emenda certamente ficaria pior que o soneto.

Resumindo: a pior crise que uma empresa/instituição enfrenta é aquela em que sua credibilidade fica arranhada. Que o digam as montadoras de carros com os seus cada vez mais frequentes “recall’. O cenário ideal nesse aspecto da comunicação é ruído zero. Nas instâncias de governo, onde o telhado é sempre de vidro, a figura do ouvidor exerce papel fundamental para as relações com a população, a imprensa e demais poderes constituídos. O ouvidor (ou ombudsman) é instrumento que vem tendo curva ascendente de inclusão na estrutura das grandes empresas.

Outro mecanismo prático e funcional é o clipping de notícias – não mais aquele anacrônico calhamaço de papel, mas o virtual que o cliente recebe por Internet em sua mesa de trabalho logo pela manhã. Processo simples que dá à Assessoria de Imprensa as referências e os sinais do que pode interferir na sua agenda de trabalho – e, de preferência, priorizando aquelas que podem ser chamadas de notícias negativas. Prevenir, antecipando-se a possíveis dores de cabeça, ainda é o melhor remédio!

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