sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A lista de Sendler


A Internet é ferramenta que tudo permite. Cai de tudo na rede. Muita coisa é porcaria. Cabe a cada um filtrar o que lhe interessa. E é disso que trata a mensagem que acabo de receber do meu amigo Cyrilo Luciano Gomes, filho do saudoso professor Nicanor dos nossos tempos de adolescente em Assis.
Pois o Luciano está replicando o texto que circula na rede mundial com a história de Irena Sendler, polonesa que morreu aos 98 anos em 12 de maio de 2008. Vou resumir o email, que é longo e carece de algumas correções históricas e de tradução. Tio Gugol e tia Wiki estão nessa.

A maioria já ouviu falar ou assistiu ao filme e sabe quem foi Schindler, o alemão que “comprou” a liberdade de 1.100 judeus, e cuja história acabou em filme. Pois a polaca Irena Sendler salvou a vida de 2.500 crianças, foi perseguida, torturada e condenada à morte. Sobreviveu e, mesmo depois do que fez, terminada a guerra, continuava a se sentir com a consciência pesada por achar que poderia ter salvado muito mais crianças.

Filha de médico, formada assistente social, na época em que os nazistas tomaram Varsóvia, em 1939, Irena se integrou como voluntária ao comitê de ajuda aos judeus (chamado de Zegota) e conseguiu autorização dos alemães para trabalhar no setor de doenças contagiosas. Temerosos de uma epidemia de tifo, os invasores permitiam que os poloneses tomassem conta daquela ala sanitária.

Pos em prática seu plano depois de conversar com as famílias das crianças. Primeiro, transportava-as de ambulância para fora do hospital, simulando que estavam com tifo. Depois, as escondia em sacos de lixo, de batatas, caixotes, e em embalagens de produtos de limpeza, e as levava em sua caminhonete. Diz a lenda que, nessas idas e vindas, tinha como ajudante estratégico um cachorro que havia adestrado para latir somente quando passasse pelos soldados nazistas.
Descoberta, foi torturada mas jamais entregou os nomes das crianças ou de suas colaboradoras. Condenada à morte, há duas versões controversas que narram como ela sobreviveu. Numa, um soldado alemão simulou que a interrogaria novamente, levou-a para fora das muralhas da prisão de Pawiak e mandou que ela corresse para a liberdade. Na manhã seguinte, o nome do soldado estava na lista dos executados do dia pela Gestapo. Noutra versão, os dirigentes da Zegota (o comitê de ajuda aos judeus) teriam subornado os soldados alemães, que colocaram o nome de Irena na lista dos executados. Solta, ela passou a viver na clandestinidade até o final da guerra.

As crianças conheciam Irena pelo codinome de Jolanta. Ela escreveu seus nomes em listas que guardou em dois potes de vidro e os enterrou no jardim de uma casa vizinha. Quando a guerra acabou, Irena entregou as listas a Adolf Berman, o primeiro dirigente do Comitê de Salvação dos Judeus Sobreviventes. E ali começava outro drama. A maioria das famílias daquelas crianças havia sido executada nos campos de concentração. As crianças foram adotadas ou levadas para orfanatos e, depois, enviadas para a Palestina.

A identidade de Irena Sendler começou a ser revelada em 1965, quando recebeu a medalha “Justo entre as Nações do Mundo”, conferida pelo Instituto Yod Vashem a estrangeiros que salvaram os judeus das atrocidades da Segunda Guerra Mundial. Um homem viu a foto dela e lhe disse ao telefone: “Lembro-me de sua cara. Foi você quem me tirou do gueto”. A partir daí, outras “crianças” fizeram o mesmo e eles puderam rever a heroína que os salvara.

Mas só em 1999, quando a Internet ainda engatinhava, é que o mundo começou a conhecer a história dessa mulher que resgatou 2.500 crianças do extermínio nazista. Numa escola protestante da zona rural do Kansas (EUA), quatro alunas se uniram para pesquisar a vida de pessoas que, como o soldado alemão da Lista de Schlinder, ajudaram a salvar judeus da morte. A sugestão do professor de História, tirada de um recorte de jornal, incluía o nome de Irena Sendler.

Elas acabaram indo ao encontro de Irena, então com 90 anos, e o trabalho resultou na peça de teatro, A vida num pote de vidro, que rodou os Estados Unidos, Europa e chegou na Polônia. O estupendo nisso tudo é que, em 2001 havia apenas uma citação de Irena na Internet. Menos de 10 anos depois, nesse exato momento, são mais de 100 mil referências.

Em 2007, um ano antes de sua morte, o governo da Polônia e o Estado de Israel apresentaram a candidatura de Irena Sendler para concorrer ao Prêmio Nobel da Paz. Quem ganhou foi o vice-presidente dos EUA, Al Gore, por sua luta em defesa do meio-ambiente. Em 2009, a história dessa mulher incrível, que ficou conhecida como a Mãe das Crianças do Holocausto ou O Anjo do Gueto de Varsóvia, foi levada para a televisão nos EUA. O Corajoso Coração de Irena Sendler ainda não passou por aqui.

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